terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

SOBRE A QUARESMA

O Conselho Episcopal de Pastoral (CONSEP), em reunião na sede da CNBB, em Brasília, no ensejo da avaliação dos 40 anos da Campanha da Fraternidade (CF), decidiu no dia 24 de agosto de 2004 que, a partir do ano de 2006, ao invés de uma “missa”, cada CF terá um hino alusivo ao seu respectivo tema. Os cantos para a celebração eucarística – quaresma A-B-C - estão sendo gravados pela gravadora Paulus na coleção “Liturgia” vol. XIII e XIV, respectivamente. A decisão pelo “Hino” foi conseqüência de uma serena e profunda discussão motivada a partir do texto que transcrevemos a seguir.

O texto está dividido em duas partes: A primeira coloca em destaque as seguintes questões: O que cantamos na liturgia durante a quaresma? Qual é a ‘fisionomia’ de um canto quaresmal? E ainda: Como conciliar o repertório quaresmal com as missas (temáticas) da Campanha da Fraternidade de cada ano? A segunda parte apresenta as características do “Hino” da CF e as devidas orientações e encaminhamentos para a sua implantação a partir do ano de 2006.

I – O repertório quaresmal e as “missas” da Campanha da Fraternidade

1.1 O repertório quaresmal

“Cantar a quaresma é, antes de tudo, cantar a dor que se sente pelo pecado do mundo, que, em todos os tempos e de tantas maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a Paixão de Cristo... É um canto de luto, um canto sem ‘glória’ e sem ‘aleluia’, um canto sem flores e sem as vestes da alegria, um canto ‘das profundezas do abismo’ em que nos colocaram nossos pecados (Sl 130); um grito penitente de quem implora e suplica: ‘Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade, e conforme a vossa misericórdia, apagai a minha iniqüidade’(Sl 51,3)” .

Vejamos, a seguir, alguns exemplos de textos pinçados do repertório quaresmal da Igreja no Brasil, buscando vinculá-los a alguns aspectos da espiritualidade quaresmal :
a) Quaresma é, antes de tudo, tempo de mudança radical de vida e de conversão do coração:

“Mudai de vida, mudai,
convertei-vos de coração!
Fazei a vontade do Pai,
Amai, servi aos irmãos.
Fazei a vontade do Pai,
Lutai por um mundo de irmãos;
Fazei a vontade do Pai,
O chão é de todos e o pão.
(...)
Escutai, ó Igreja de Deus:
Eis o tempo da graça chegou,
É o Senhor da justiça que passa,
Sua páscoa entre nós começou!” .

Ou:

O vosso coração de pedra se converterá
Em novo, em novo coração!
1.
Tirarei de vosso peito
Vosso coração de pedra,
No lugar colocarei
Novo coração de carne...” .

Ou:

“Eis o tempo de conversão,
Eis o dia da salvação:
Ao Pai voltemos, juntos andemos,
Eis o tempo de conversão!” .

b) Quaresma é tempo de reconciliação. Já na quarta-feira de cinzas, fazendo eco às palavras do apóstolo Paulo (2ª leitura), cantamos:

“Reconciliai-vos com Deus!
Em nome de Cristo rogamos.
Que não recebais em vão sua graça e seu perdão;
Eis o tempo favorável
O dia da salvação! (2cor 5, 20)” .

c) Quaresma é tempo de perdão. Cantamos a misericórdia de Deus e reforçamos, entre nós, o desejo da prática incondicional do perdão:

“Senhor, eis aqui o teu povo,
Que vem implorar teu perdão;
É grande o nosso pecado,
Porém, é maior o teu coração.
1.
Sabendo que acolheste Zaqueu, o cobrador,
E assim lhe devolveste tua paz e teu amor,
Também, nos colocamos ao lado dos que vão
Buscar no teu altar a graça do perdão” .


1.2. A pedagogia de cada domingo da quaresma

O Lecionário Dominical – embora trazendo nos dois primeiros domingos dos anos A, B e C o mesmo conteúdo evangélico (Deserto e Transfiguração de Jesus) - propõe três diferentes “itinerários” quaresmais, a saber: No ano A, os evangelhos estão intimamente relacionados com a temática do batismo (Samaritana, Cego de nascença e Ressurreição de Lázaro). No ano B, o acento recai sobre a pessoa de Jesus Cristo (Expulsão dos vendilhões, Encontro com Nicodemos, “O grão caído na terra”). Por fim, no ano C, a penitência e a conversão aparecem bem evidenciados (cf. parábolas da “Figueira estéril”, do “Filho pródigo” e o episódio da a “Mulher pecadora”).
Por razão de espaço, nossa amostra contemplará apenas alguns domingos. Restringindo ainda mais o âmbito da abordagem, concentraremos nos cantos de comunhão, uma vez que estes, na medida do possível, devem estar vinculados ao conteúdo do evangelho proclamado na celebração.
No primeiro domingo da quaresma, mergulhamos no deserto com Jesus. A exemplo do Divino Mestre devemos resistir a toda e qualquer tentação. Por isso, durante o rito da comunhão, cantamos o salmo 91(90):

“Quando invocar, eu atenderei,
Na aflição com ele estarei;
Libertarei, glorificarei,
Minha salvação eu lhe mostrarei!
(...)
O Senhor mandou seus anjos
Pra teus passos vigiarem;
Eles te sustentarão
Pra teus pés não tropeçarem...
Os perigos mais temidos
Sem temor vais enfrentá-los;
´Já que a mim se confiou,
cuidarei de resguardá-lo’” .

Como bons discípulos, no domingo da transfiguração (2º domingo da quaresma), devemos escutar a voz do Pai, já que esse é o seu maior desejo. E, fazendo memória do que ouvimos no evangelho, durante a comunhão, cantamos:

“Então da nuvem luminosa dizia uma voz:
‘Este é meu Filho amado, escutem sempre o que ele diz’” .

No terceiro domingo da quaresma (ano B), depois de escutarmos o relato da expulsão dos vendilhões do Templo, cantamos durante a comunhão o salmo 84(83):

“O passarinho encontrou
agasalho pra seus pequeninos.
O teu altar, ó Senhor,
É abrigo pros teus peregrinos.
1.
Como é boa a tua casa,
Como é bom morar contigo,
Por ti suspira a minh’alma,
Meu coração, ó Deus vivo! (...)
6.
Pois um dia em tua casa
Vale mais que mil lá fora,
A conviver com perversos
Prefiro estar à tua porta!” .

Ou:

“Até os pássaros do céu encontram um abrigo,
Perto de ti, Senhor, abrigarei a minha vida” .

No domingo da alegria e do cego de nascença (4º domingo - ano A), cantamos durante a comunhão:

“Dizei aos cativos: “Saí!”
Aos que estão nas trevas: “Vinde à luz!”
Caminhemos para as fontes,
É o Senhor quem nos conduz!
(...)
Céus e terra, alegrai-vos,
Animai-vos e cantai;
O Senhor nos consolou,
Dos aflitos se lembrou!” .

Chegando no 5º domingo do ano B, por exemplo, fazemos memória do que Jesus disse no evangelho deste dia:

“Se o grão de trigo não morrer, sozinho vai ficar,
mas se morrer, no chão, dará, com tempo, muito fruto” .

No domingo de ramos, depois do canto do “Hosana ao Filho de Davi”, mergulhamos no mistério da Paixão de Cristo:

“Salve, ó Cristo obediente!
Salve, amor onipotente,
Que te entregou à cruz
E te recebeu na luz!
1.
O Cristo obedeceu até a morte,
Humilhou-se e obedeceu o bom Jesus ,
Humilhou-se e obedeceu, sereno e forte,
Humilhou-se e obedeceu até a cruz.
2.
Por isso o Pai do céu o exaltou,
Exaltou-o e lhe deu um grande nome,
Exaltou-o e lhe deu poder e glória,
Diante dele céus e terra se ajoelham! ” (Fl 2, 8-9) .


1.3. As missas da Campanha da Fraternidade e o repertório quaresmal

1.3.1. Estado da questão

Desde o ano de 1964, durante a quaresma, a Igreja no Brasil promove a “Campanha da Fraternidade”. Cada Campanha está vinculada a um tema. A partir desse tema, elabora-se um texto-base e subsídios bíblicos e litúrgicos. Desses últimos, destacam-se os cantos para as celebrações, especialmente a eucaristia. A cada ano, portanto, uma nova “Missa da Campanha da Fraternidade”.

1.3.2. Conseqüências pastorais

Uma “nova” missa a cada ano, num “tempo forte” do ano litúrgico (a quaresma), compromete de forma decisiva a criação de um repertório bíblico-litúrgico quaresmal (cf. SC 121). Repertório pressupõe repetição, memória, assimilação.
Os textos são geralmente direcionados para um “tema”. Por isso, tornam-se inadequados a sua repetição no ano seguinte. Quase sempre, os textos são desprovidos de beleza poética e, normalmente, vêm carregados de explicações, conscientização, chavões moralistas, etc. Enfim, carecem de elementos fundamentais para a linguagem litúrgica.
Por outro lado, sabemos que desde a mais genuína tradição da Igreja, os textos litúrgicos - desde a eucologia (orações) até os hinos – são vazados de uma linguagem performativa, poético-mística, narrativo-memorial, bíblica e orante. Infelizmente, a grande maioria dos letristas que aderem ao concurso da CF desconhece a arte da poesia, da teologia e da espiritualidade litúrgica. E ainda: é praticamente impossível, em cada canto da “missa da CF”, vincular o tema (da CF) com a espiritualidade de cada domingo da quaresma e ao momento ritual da celebração ao qual o canto se destina.
À guisa de exemplo, tomemos três fragmentos de textos de CF passadas:
1)
“Eu quero o verde entoando salmos mil à vida
e a flor se abrindo para o céu, pequeno altar
primeira bênção dada à terra ressequida
o verde é nosso, vamos todos preservar.

Refrão:
Perdão, Senhor, é idolatria amar a morte
Nosso egoísmo mancha o céu, a terra e o mar
O azul, o verde, as ondas vão ter outra sorte
Se o nosso coração não converter e amar.
(...)
Eu quero o céu sem este fumo triste, imundo
Não quero frutos que a ciência contamina
Não posso ouvir Deus me dizer: ‘domina o mundo’
Quando o cimento esmaga a vida e me domina”.
(CF 1979 – Abertura)

2)
“Esta mesa nos ensina:
Todo bem que a gente alcança
em comum devemos por:
o remédio, a medicina, pão e vinho e segurança,
alegria, fé e amor. Alegria, fé e amor”. (...)
(CF 81 – oferendas).

3)
Refrão:
“A família, como vai?
Meu irmão, venha e responda!
Quem pergunta, é o Pai,
A verdade não esconda!

Vem à Igreja, reza e pede
Um amor que sempre mede,
Quando é hora de doar?
Sufocando o seu desejo,
Vai vivendo no varejo,
Não é templo, nem altar?” (...)
(CF 94 – Abertura)

Pudemos ver na amostra acima a precária qualidade poética, a fundamentação bíblica insuficiente, além de os textos não cumprirem a função ministerial ao qual os mesmos se destinam.

1.3.3. Apelo de pastores, músicos e liturgistas

Há mais de 20 anos, pastores, músicos e liturgistas vêm questionando esse costume de, a cada Quaresma, colocar uma “missa temática”. A sugestão é de, ao invés de uma nova “missa”, que se faça apenas um hino alusivo ao tema, podendo o mesmo ser executado em algum momento (mais adequado) da celebração, ficando a critério da equipe de celebração e de quem preside. Por exemplo, na celebração eucarística ou da palavra, o hino poderá ser entoado em algum momento da homilia – o que facilitaria a vinculação da liturgia da palavra com o “chão” da vida (tema da CF) - ou nos ritos finais, no momento de “envio”. Para outros tipos de celebração, a equipe responsável preverá o melhor momento para a execução do “hino”.

1.3.4. Justificativas

A intenção de se criar um repertório bíblico-litúrgico quaresmal é resgatar o verdadeiro sentido da música como parte integrante da liturgia (cf. SC112). Como parte integrante, a música, assim como os demais elementos que compõem o rito, tem a nobre função de expressar, de tornar presente e, sobretudo, levar os fiéis à vivência do mistério pascal de Cristo. A idéia de repertório está intimamente ligada à de rito.
O rito é, por natureza, repetição, memória, consenso coletivo. Por isso não podemos modificar a sua estrutura, a sua essência: o máximo que podemos fazer com o rito é adaptá-lo à cultura e ao jeito de cada povo . A função primordial do rito cristão é evocar, tornar presente, recordar a fé em Jesus Cristo. A música, enquanto rito, tem a propriedade de evocar, tornar presente este mistério.
Um repertório bíblico-litúrgico quaresmal que permanece vivo na memória dos fiéis, além de facilitar a participação da assembléia, também resgata a dimensão de memorial - essencial para a liturgia. A ação renovadora do Espírito Santo proporcionará à mesma assembléia, a novidade na repetitividade. A pedagogia intrínseca ao ato de repetir, a cada ano, o mesmo canto, levará os fiéis a uma vivência espiritual, cada vez mais intensa, do mistério celebrado.
Vale citar aqui as palavras do cardeal de Bruxelas (Bélgica) Godfried DANNEELS sobre a importância da repetição na ação litúrgica:
As repetições são indispensáveis para que a liturgia nos prepare como uma gota d’água que cai numa pedra e que, ao longo dos séculos de história da salvação penetre na experiência como a fonte que escava os ‘canyons’. Temos necessidade de encontrar todos os anos as mesmas festas para que cada vez seja compreendida uma outra face. Todos os anos eu ouço uma ‘Paixão de Bach’ e todos os anos, o grito: ‘Elôi, Elôi, lama sabacthani!’ me soa de maneira diversa. Não porque a sua interpretação seja diferente, mas porque eu mudei .

O mesmo autor, em recente palestra ministrada durante a assembléia anual da Conferência dos Bispos Católicos do Canadá, sobre a Sacrosanctum Concilium , insiste em alguns pontos que vêm ao encontro daquilo que pensamos a respeito da música enquanto rito. Vejamos:

A liturgia só é compreensível em certo nível de repetição. Apenas gradualmente, as realidades profundas revelam seu pleno significado. Daí decorre o fenômeno do “ritual” da liturgia. Quem diz “ritual” diz repetição (...). Devemos estar cientes de que compreender a liturgia é muito mais que um exercício cognitivo; será necessário nela ‘penetrar’ com amor. Desde a Renascença perdemos a faculdade de contemplação desinteressada, que se viu posta de lado, em favor da observação analítica.

A liturgia necessita de tempo para revelar seu tesouro. Ela nada tem a ver com o tempo físico ou cronometrado, mas com o tempo espiritual da alma. Como a liturgia não depende do mundo da informação, mas permanece ao domínio do coração, não segue o tempo “do relógio”, mas o kairós. Várias de nossas liturgias não oferecem tempo nem espaço para se “penetrar” no evento (...). As questões sérias – como a liturgia – não podem ser apreendidas instantaneamente. Precisam de tempo, e quem diz tempo diz repetição (...). As questões mais profundas só com o tempo permitem emergir seu verdadeiro significado.


1.3.5. Orientações (atuais) do Magistério da Igreja sobre a música litúrgica

Na Instrução: Liturgiam autenticam .

“Os cantos e os hinos litúrgicos constituem elementos de importância e eficácia particulares. Sobretudo no Domingo, o dia do Senhor, os cantos dos fiéis reunidos para a celebração da missa não são menos importantes que as orações, as leituras, a homilia, para a comunicação autêntica da mensagem da liturgia, pois fomentam o sentido da fé comum e da comunhão na caridade. A fim de estarem mais difundidas entre os fiéis, é preciso que sejam bastante estáveis, de modo a evitar a confusão entre o povo. Dentro de cinco anos a partir da publicação desta instrução, as conferências dos bispos deverão preparar a publicação de um diretório ou repertório dos textos destinados ao canto litúrgico, com a necessária ajuda das comissões nacionais ou diocesanas interessadas e de outros peritos. Esse repertório seja transmitido à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos sacramentos para o necessário reconhecimento” (n. 108).

Na carta do Santo Padre sobre a música litúrgica

“A música litúrgica deve, de fato, responder aos seus requisitos específicos: a plena adesão aos textos que apresenta, a consonância com o tempo e o momento litúrgico para o qual é destinada, a adequada correspondência aos gestos que o rito propõe. Os vários momentos litúrgicos exigem, de fato, uma expressão musical própria, sempre apta a fazer emergir a natureza própria de um determinado rito, ora proclamando as maravilhas de Deus, ora manifestando sentimentos de louvor, de súplica ou ainda de melancolia pela experiência da dor humana, uma experiência, porém, que a fé abre à perspectiva da esperança cristã” (n. 5b).

“É importante, de fato, que as composições musicais utilizadas nas celebrações litúrgicas correspondam aos critérios enunciados por São Pio X e sabiamente desenvolvidos, quer pelo Concílio Vaticano II quer pelo sucessivo Magistério da Igreja. Nesta perspectiva, estou persuadido de que também as Conferências episcopais hão de realizar cuidadosamente o exame dos textos destinados ao canto litúrgico, e prestar uma atenção especial à avaliação e promoção de melodias que sejam verdadeiramente aptas para o uso sacro” (n. 13b).


c) Na Instrução: Redemptionis Sacramentum

Embora não tratando especificamente da música litúrgica, a Instrução Redemptionis Sacramentum considera a importância da música, ao lado dos demais elementos rituais da celebração litúrgica: “É um direito da comunidade dos fiéis que, sobretudo na celebração dominical, haja uma música sacra adequada e idônea...” (n. 57).


d) No Estudo: “A música litúrgica no Brasil” da CNBB :

“Nas manifestações folclóricas, para cada tempo, cada festa, cada tipo de evento, a repetir-se todo ano em determinada época, o povo reserva naturalmente determinado tipo de música. Ninguém ouve música de “quadrilha junina” no carnaval, nem frevo ou samba carnavalesco na noite de São João... (...) Cada tempo, cada festa, cada evento, têm suas músicas características. Essas músicas carregam consigo poderosa eficácia simbólica. São elas que, por força desta mesma reserva, têm a virtude de criar o clima próprio de cada tempo, festa ou evento. O que não aconteceria, se fossem cantadas aleatoriamente em qualquer oportunidade. Ora, essa “sabedoria do povo” (folclore) pode nos ajudar a todos, comunidades, artistas e agentes litúrgico-musicais, a resgatar uma maior coerência, que no passado havia, quando se cantava o Canto Gregoriano, ao se repetir cada ano, em cada tempo litúrgico, em cada dia ou festa especial, os cantos próprios daquele tempo, daquele domingo, daquela solenidade” (n. 289-291).



1.4. Concluindo esta primeira parte

1.4.1. Quanto ao repertório quaresmal

Pudemos observar na pequena amostra do repertório quaresmal (itens n. 1.1 e 1.2) a presença de algumas características fundamentais para o canto litúrgico:
A íntima conexão com a espiritualidade do tempo litúrgico (a quaresma);
Os textos tirados da Sagrada Escritura ou inspirados nela (cf. SC 121);
A dimensão dialogal e orante;
A estreita relação com o momento ritual (cf. SC 112);
A boa qualidade (estética) da linguagem poética e melódica.

1.4.2. Quanto aos cantos das “missas” da CF

Na pequena amostra apresentada acima (item n. 1.3.2), pudemos verificar a precária qualidade poética, a fundamentação bíblica insuficiente, além de os textos não cumprirem sua função ministerial para a celebração eucarística dos domingos da quaresma.



II – “HINO” DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE - ENCAMINHAMENTOS PARA 2006


2.1. Quanto ao hino

A proposta de haver apenas um hino alusivo ao tema da CF de cada ano não constitui uma novidade: É um anseio de mais de 20 anos.
Nas décadas de 1970 e 1980, não existia um repertório bíblico-litúrgico quaresmal para as celebrações eucarísticas como o temos atualmente.
Os cantos que compõem o repertório quaresmal (Anos A-B-C) - cf. tabela do repertório quaresmal - anos A-B-C -, no anexo, que está sendo gravado em CD pela gravadora Paulus - cumprem, de forma mais eficaz, sua função ministerial, ou seja: a estreita relação com o momento ritual, com o sentido da celebração e com a Palavra de Deus proclamada em cada domingo.
A CF de cada ano terá um hino alusivo ao seu respectivo tema, com as seguintes características:

* O texto:

O hino, antes de tudo, primará por uma linguagem poética que traduzirá o conteúdo do tema da CF, com as seguintes características bíblico-teológicas e pastorais:

Um caráter convocativo. Os fiéis serão convocados para a adesão ao que se propõe a CF daquele ano. É Deus quem convoca sua Igreja, seu povo, para este engajamento concreto da fé. Os desafios da vida deverão ser acolhidos na fé, como “apelos de Deus”;
Um embasamento bíblico;
A coerência entre fé e vida ou seja, o culto em “espírito e verdade” (cf. Jo 4, 23-24). Neste sentido, vale lembrar a Parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37) ou mesmo o que o apóstolo Tiago expressa em sua carta (cf. Tg 2, 14-26). Enfim, o amor efetivo, sem o qual não existe vida cristã autêntica (cf. 1Jo, 3-4). Em outras palavras: A Fraternidade e a Solidariedade.
A esperança de um mundo novo, transformado, “um novo céu e uma nova terra...” (cf. Ap 21, 1-7). A força do texto deverá reavivar a esperança, a criatividade, o compromisso, a militância... Enfim, uma mensagem que ajudará o povo de Deus a pôr-se em marcha.

* A expressão musical:

A expressão musical do hino será revestida de:
Caráter vibrante, vigoroso, “energizador”. Este caráter tem a ver com o ressoar de “trombetas e clarins” (cf. Sl 47, 6; 98, 5-6);
Melodia e ritmo fluentes, acessíveis a qualquer tipo de assembléia;
Força melódica e rítmica eficazes para a dinamização das potencialidades individuais e grupais, despertando-os do torpor do egoísmo e do comodismo.

A cada ano, a CF terá seu CD. Neste, além do Hino “oficial”, virão gravados cantos do ordinário da missa, de preferência, o canto da Oração Eucarística. O mesmo CD poderá trazer outros cantos do repertório quaresmal, além daqueles que já estão gravados nos CDs: “Liturgia XIII” e “Liturgia XIV”, da gravadora Paulus.

2.2. Quanto ao concurso

O concurso continuará aberto a todos. Aqueles músicos, que nunca participam ou deixaram de fazê-lo por não concordarem com o formato do concurso em vigor, receberão um convite especial da CNBB para se engajarem na criação do hino;
O concurso será para letra e música, simultaneamente, podendo haver parceria de letristas e músicos;
A Equipe de Reflexão de Músicos, coordenada pelo assessor para a Música Litúrgica da CNBB, presidida pelo Secretário Geral, fará a seleção final.

2.3. Quanto à divulgação do redimensionamento do concurso das próximas CFs

O fato de no próximo ano a CF ser ecumênica – não havendo uma “Missa da CF 2005” - facilitará os seguintes encaminhamentos:

A divulgação de “folders” do presente texto. Estes subsídios deverão ser distribuídos durante as assembléias e cursos de formação litúrgica e divulgados pela imprensa católica: jornais, revistas, internet...;
Esclarecimento aos bispos durante a 43ª Assembléia Geral dos Bispos, no momento dos “assuntos de liturgia”;
Agenda de programas sobre o tema “Música litúrgica quaresmal e a Campanha da Fraternidade” nas TVs de inspiração católica com a presença do Secretário Executivo da CF e do Assessor de música litúrgica da CNBB.
As equipes diocesanas de liturgia e da CF se empenhem na divulgação/esclarecimento desta nova fase dos concursos da CF.



Brasília, 5 de outubro de 2004

Dom Odilo Pedro Scherer
Bispo auxiliar de São Paulo
Secretário-Geral da CNBB

Dom Manoel João Francisco
Bispo de Chapecó – SC
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia



CANTOS LITÚRGICOS PARA A QUARESMA – ANOS A-B-C
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia – Setor: Música Litúrgica
CDs: Liturgia XIII e Liturgia XIV - Projeto de gravação - Gravadora PAULUS


DOM. ANO ABERTURA SR ACLAMAÇÃO OFERENDAS COMUNHÃO

Cinzas A H2 190 Senhor, eis aqui o teu povo H2 62 CF 2003: Louvor a vós, ó Cristo
L.: Lecionário Distribuição das cinzas:
H2 178: Pecador, agora é tempo

Oferendas: H2 176: O vosso coração de pedra se converterá - H2 187: reconciliai-vos com Deus
B Idem Ano A Idem Ano A CF 2003: Louvor a vós, ó Cristo
L.: Lecionário H2 135: Eis o tempo de conversão - H2 17: Agora o tempo se cumpriu
C Idem Ano A Idem Ano A CF 2004: Louvor a vós, ó Cristo
L.: Lecionário ODC-part.163: Todo povo sofredor o seu pranto esquecerá Idem Ano A
1º A

Deserto de Jesus H2 190: Senhor, eis aqui o teu povo H2 62 CF 2003: Louvor a vós, ó Cristo
L.: R. Veloso H2 176: O vosso coração de pedra se converterá – ODC-part.101: Quando invocar, eu atenderei
B

Deserto de Jesus H2 155: João Batista clamou no deserto (sem estrofe 3) H2 65 CF 2004: Louvor a vós ó Cristo
L.: R. Veloso H2 135: Eis o tempo de conversão – ODC-part.101: Quando invocar, eu atenderei
C

Deserto de Jesus ODC-part. 109: Ah! se o povo de Deus no Senhor cresse... H2 68 Honra, glória, poder e louvor...
L.: R. Veloso ODC-part.163: Todo povo sofredor o seu pranto esquecerá - H2 40: Quem vive à sombra do Senhor...........
2º A

Transfiguração H2 190: Senhor, eis aqui o teu povo H2 62 CF 2003: Louvor a vós, ó Cristo
L.: R. Veloso H2 176: O vosso coração de pedra se converterá H2 31: Então da nuvem luminosa dizia uma voz: “Este é meu Filho amado”
B

Transfiguração H2 155: João Batista clamou no deserto (sem estrofe 3) H2 65 CF 2004: Louvor a vós ó Cristo
L.: R. Veloso H2 135: Eis o tempo de conversão H2 31: Então da nuvem luminosa dizia uma voz: “Este é meu Filho amado”
C

Transfiguração ODC-part. 109: Ah! se o povo de Deus no Senhor cresse... H2 68 Honra, glória, poder e louvor...
L.: R. Veloso ODC-part.163: Todo povo sofredor o seu pranto esquecerá H2 31: Então da nuvem luminosa dizia uma voz: “Este é meu Filho amado”
3º A

Samaritana H2 190: Senhor, eis aqui o teu povo H2 62 CF 2003: Louvor a vós, ó Cristo
L.: R. Veloso H2 176: O vosso coração de pedra de converterá “Se conhecesses o dom de Deus...”
B

Vendilhões do templo H2 155: João Batista clamou no deserto (sem estrofe 3) H2 65 CF 2004: Louvor a vós ó Cristo
L.: R. Veloso H2 135: Eis o tempo de conversão H2 39: O passarinho encontrou agasalho
C

Figueira estéril ODC-part. 109: Ah! se o povo de Deus no Senhor cresse...
H2 68 Honra, glória, poder e louvor...
L.: R. Veloso ODC-part.163: Todo povo sofredor o seu pranto esquecerá H2 126: Como o raiar, raiar do dia


(Laetare) A

Cego de nascença Alegres vamos à casa do Pai
(sem a estrofe 3) H2 62 CF 2003: Louvor a vós, ó Cristo
L.: R. Veloso H2 176: O vosso coração de pedra se converterá H2 132: Dizei aos cativos: Saí! Aos que estão nas trevas, vinde à luz!
B

Nicodemos ODC-part. 155: Fiquei foi contente H2 65 CF 2004: Louvor a vós ó Cristo
L.: R. Veloso H2 135: Eis o tempo de conversão ODC-part. 206: Glorifica o Senhor Jerusalém! Celebra teu Deus, ó Sião.
C

Filho pródigo Alegres vamos à casa do Pai
(sem a estrofe 3) H2 68 Honra, glória, poder e louvor...
L.: R. Veloso ODC-part.163: Todo povo sofredor o seu pranto esquecerá - H3 355: Feliz o homem que da culpa foi absolvido
- H3 336: Muito alegre eu te pedi... (opcional)
5º A

Ressurreição de Lázaro H2 190: Senhor, eis aqui o teu povo H2 62 CF 2003: Louvor a vós, ó Cristo
L.: R. Veloso H2 176: O vosso coração de pedra se converterá H2 142: Eu vim para que todos tenham vida...
B

Grão de trigo H2 155: João Batista clamou no deserto (sem estrofe 3) H2 65 CF 2004: Louvor a vós ó Cristo
L.: R. Veloso H2 135: Eis o tempo de conversão H2 19 Se o grão de trigo não morrer, sozinho há ficar...
C

Mulher pecadora ODC-part. 109: Ah! se o povo de Deus no Senhor cresse...
H2 68 Honra, glória, poder e louvor...
L.: R. Veloso ODC-part.163: Todo povo sofredor o seu pranto esquecerá V.C. 237: Tanto que esperou pudesse um dia chegar bem perto...

A-B-C

Ramos e Paixão H2 150: - Hosana ao Filho de Davi
- Hosana, hosana e viva

Procissão:
- H2 26: Os filhos dos hebreus
- H2 148: Glória e louvor e honra A:H2 62
B:H2 65
C:H2 68 H2 189: Salve, ó Cristo, obediente H2 169: Ó morte, estás vencida (Anos A, B e C) H2 55: Pai, se este cálice não pode passar sem que o beba...
H2 142: Eu vim para que todos tenham vida

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