domingo, 8 de agosto de 2010

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

A Assunção da Virgem em corpo e alma, após sua morte preciosíssima é, hoje, um dogma de fé cristã. Encontra-se contido em nossa página principal (em catecismo) detalhes explicativos sobre os dogmas que, resumidamente podem definir-se como verdades divinas propostas pela Igreja, e que devemos crer incondicionalmente, sob pena de cairmos em heresia.


Desta breve exposição se inclui que, nenhum católico poderá negar que a Virgem Mãe de Deus foi elevada ao céu em corpo e alma, após a morte.


O Papa Pio XII , no dia 1o. de novembro de 1950, na Basílica de São Pedro, dirigiu a cerimônia que ficou e ficará para sempre nos anais da Igreja Católica como a mais solenes da era contemporânea, o Dogma da Assunção da Virgem Mãe de Deus. Vejamos a alocução de Sua Santidade firmada nessa cerimônia:


“Veneráveis irmãos e amados filhos e filhas que vos haveis congregado em nossa presença e todos vós que nos ouvis nesta Santa Roma e em todos os lugares do mundo católico.


“Emocionados pela proclamação como um dogma de fé da Assunção ao céu da Santíssima Virgem em corpo e alma, exultando de alegria que inunda os corações de todos os fiéis, agora satisfeitos em seus ardentes desejos, sentimos irresistível necessidade de elevar junto convosco o hino de graças à amada providência de Deus, que quis reservar para vós a alegria deste dia e a nós o conforto de colocar sobre a fronte da mãe de Deus e da nossa mãe um brilhante diadema que coroa suas singulares prerrogativas.


“ Por um inescrutável desígnio do destino, aos homens da atual geração tão atormentados e afligidos, perdidos e alucinados, mas também sadiamente em busca de um grande Deus que foi perdido, abre-se uma parte luminosa dos céus, onde se senta, junto ao filho da justiça, a rainha mãe, Maria.


“Implorando há longo tempo, finalmente nos chega este dia, o qual por fim, é nosso. A voz dos séculos – deveríamos dizer a voz da eternidade – é nossa. É a voz que, com a ajuda do Espírito Santo, definiu solenemente o alto privilégio da celestial Mãe. E vosso é o grito dos séculos. Como se houvessem sido sacudidos pelas batidas dos vossos corações e pelo balbuciar dos vossos lábios, as próprias pedras desta patriarcal basílica vibram e juntamente com elas os inumeráveis antigos templos levantados em todas as partes em honra de Maria, monumentos de uma só fé e pedestais terrenos do celestial trono da glória da Rainha do Universo, parecem exultar em pequenas batidas. E neste dia de alegria, desde este pedaço do céu, juntamente com a evangélica onda de satisfação que se harmoniza com a onda de exultação de toda a Igreja militante, não pode deixar de descer sobre as almas uma torrente de graças e ensinamentos, frutíferos despertadores de renovada santidade. Por esta razão, para tão altíssima criatura, levantamos, cheios de fé, os nossos olhares da terra – nesta nossa época, entre a nossa geração – e gritamos a todos: “Levantai os vossos corações”.


“As muitas intranqüilas e angustiosas almas, triste legado de uma idade violenta e turbulenta, almas oprimidas, porém não resignadas, que já não crêem na bondade da vida e aceitam-na somente como se fossem obrigadas a aceitá-la, ela lhes abre as mas altas visões e as conforta para contemplar que destino e que obras ela há sublimado, ela , que foi eleita por Deus para ser Mãe do mundo, feita em carne, recebeu docilmente a palavra do Senhor.


“E vós, que estais mais particularmente próximo de nosso coração, vós pobres enfermos, vós refugiados, vós prisioneiros, vós os perseguidos, vós com os braços em trabalho e o corpo sem abrigo, vós nos sofrimentos de toda índole e de todas as nações, vós a quem a passagem pela terra só parece dar lágrimas e privações, por mais esforços que se façam ou que se deverão fazer para acudir em vossa ajuda; levantai vossos olhares para Ela que, antes de vós, percorreu os caminhos da pobreza, do exílio e da dor; para Ela, cuja alma foi atravessada pela espada ao pé da cruz e que agora contempla, como olhar firme, desde a luz eterna, este mundo sem paz, martirizado por desconfianças recíprocas, pelas divisões, pelos conflitos, pelos ódios a tal ponto que se debilitou e se perdeu o sentido do temor em Cristo. Enquanto suplicamos com todo o ardor que a Virgem Maria possa assinalar o retorno do calor, do afeto e da vida aos corações humanos, não nos devemos cansar de recordar que nada deve prevalecer sobre o fato, sobre a consciência de sermos todos filhos da mesma Mãe, laço é de união através do místico Corpo de Cristo, uma nova era e uma nova Mãe dos vivos, que quer conduzir todos os homens à verdade e à graça de seu divino Filho.

A FESTA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

                                                              A festa da Assunção de Nossa Senhora é uma das mais  antigas da Igreja. No ano de 600 já a Igreja Católica festejava este dia de glória de Maria Santíssima.  A festividade de hoje lembra como a Mãe de Jesus Cristo recebeu a recompensa de suas obras, dos seus sofrimentos, penitências e virtudes.  Não só a alma,  também o corpo da Virgem Santíssima fez entrada solene no céu. Ela, que durante a vida terrestre desempenhou um papel todo singular, entre as criaturas humanas, com o dia da gloriosa Assunção começou a ocupar um lugar no céu que  a distingue de todos os habitantes  da celeste Sião.

                                                          Só Deus  pode dar uma recompensa justa;  só Ele  pode remunerar com glória eterna serviços prestados aqui na terra;  só Ele pode tirar toda a dor, enxugar todas as lágrimas e encher nossa alma de  alegria indizível e dar-nos uma felicidade  completa. Que recompensa o Pai Eterno não teria dado àquela que por ele mesmo tinha sido eleita, para ser a Mãe do Senhor humanado? Se é impossível descrever as magnificências do céu, impossível é fazermos idéia adequada da glória que Maria Santíssima possui, desde o dia da Assunção. Se dos bem-aventurados do céu o último goza de uma felicidade infinitamente maior que a  do homem mais feliz no mundo, quanta não deve ser a ventura daquela que, entre todos os  eleitos, ocupa o primeiro lugar;  aquela  que pela Igreja Católica é saudada: Rainha dos Anjos, Rainha dos  Patriarcas, Rainha dos  Profetas, Rainha dos Apóstolos, dos Mártires, dos Confessores, das Virgens, Rainha de todos os  Santos!

                                                          Que honra, que distinção, que glória não recebeu Maria Santíssima pela sua gloriosa Assunção!  Esta distinção honra também a nós e é o motivo de  nos alegrarmos.  Maria, que agora é Rainha do Céu, foi o que nós somos, uma criatura humana e como tal, nasceu e morreu, como nós nascemos e  devemos morrer; mais que qualquer outra, foi provada pelo sofrimento, pela dor. Pela glória com que Deus a distinguiu, é honrado o gênero humano inteiro e  por isso a elevação de Maria à maior das  dignidades no céu é o motivo para nos regozijarmos.  Outro  motivo ainda de alegria temos no fato de Maria Santíssima  ser a  Medianeira  junto ao trono divino.

                                                          O protestantismo não se  cansa de repetir  que a Igreja Católica adora os  Santos. Doutrina da Igreja Católica é que os Santos podem interceder por nós, e que suas orações tem grande  valor aos olhos de Deus;  por isto, devemos invocá-los e pedir-lhes a intercessão. Esta doutrina, baseada  na Sagrada Escritura, é além  disto mui racional.  Os Santos não são  iguais em santidade  e  por isto seu valor de intermediários não é o mesmo.  Entre todos os  habitantes da Jerusalém, a mais santa, a mais próxima de Deus  é Maria  Santíssima.  A intercessão de Maria deve,  portanto, ser mais agradável a  Deus e mais  valiosa para nós.  São Bernardino de Siena chama Maria Santíssima a  “tesoureira da  graça  divina”;  Santo Afonso vê em Maria  o “ refúgio e a  esperança dos  pecadores”, e a  Igreja Católica  invoca-a sob os títulos de “ Mãe da divina graça, Porta do céu. Advogada nossa”.  Maria Santíssima é a nossa Mãe, nossa grande medianeira, pelo fato de ser a Mãe de Jesus Cristo, nosso grande mediador.

                                                          O dia de sua gloriosa Assunção é para nós um grande “Sursum corda”.  Levantemos os nossos  corações ao céu, onde está nossa Mãe. Invoquemo-la  em  nossas  necessidades, imitemo-la  nas virtudes. Desta sorte, tornando-nos cada vez mais semelhantes ao nosso grande modelo, mais dignos seremos da sua intercessão e mais garantidos da nossa  salvação eterna.

                                                          A Assunção de  Nossa Senhora é uma verdade, que foi acreditada desde os  primeiros anos do cristianismo, e declarada  Dogma  em 1950 pelo Papa Pio XII.  Eis  um trecho de um sermão de São João Damasceno, sobre o mistério da ressurreição e Assunção de Nossa Senhora:  “Quando a alma da Santíssima Virgem se lhe separou do puríssimo corpo, os Apóstolos presentes em Jerusalém, deram-lhe sepultura em uma gruta do Getsêmani. Tradição antiqüíssima conta que,  durante três dias, se ouviu doce cantar dos Anjos. Passados três dias não mais se ouviu o canto. Tento entretanto chegado também Tomé e desejando ver e venerar o corpo,  que tinha concebido o Filho de Deus, os Apóstolos  abriram o túmulo  mas não  acharam mais vestígio do corpo imaculado de Maria, Nossa Senhora.   Encontraram apenas as mortalhas, que tinham envolvido o santo corpo, e perfumes  deliciosos enchiam o ambiente. Admirados de tão grande milagre, tornaram a  fechar o sepulcro, convencidos de que Aquele  que quisera encarnar-se no seio puríssimo da Santíssima Virgem, preservara também da corrupção este corpo virginal e o honrara pela gloriosa assunção ao céu, antes da ressurreição geral”

 REFLEXÕES

Como deve ser suave a morte como termo de  uma  vida  santa! Se queres ter uma morte santa,  imita a Maria Santíssima na prática das virtudes, principalmente na fé, na confiança em Deus, no amor a Deus e ao próximo, na humildade, paciência e mansidão, na incomparável pureza, na conformidade absoluta à vontade  de Deus. Não há nenhuma destas virtudes, cuja prática esteja acima das tuas forças. Não te importa que os homens te desprezem, se Deus te dá tua estima. Que importa se os homens te abandonarem, sendo Deus  teu amigo e protetor?  É indiferente que sejas rico ou pobre, se possuíres a Deus.  Que são os sofrimentos, tribulações, pobreza, fome, sede  e  doença em comparação com uma boa morte, que te transportará para uma glória e  felicidade sem fim?  Quem  mais participou da Paixão de Jesus Cristo do que sua Santa Mãe?  Há, entre os Santos todos, um só, que tenha sofrido como Maria Santíssima?  Não é Ela  a  Rainha dos Mártires? Não obstante é a bendita entre as mulheres, a Esposa do Espírito Santo, a eleita da Santíssima Trindade.

Também nós havemos de  seguir  o caminho da cruz, para nos tornarmos dignos da eterna glória.  À Vista de  Maria Santíssima ao pé da cruz e  seu divino Filho pregado no lenho da ignomínia, devem emudecer nossas  queixas, nossos  desânimos.

Lembremo-nos ainda que hoje é o dia das Mil Ave-Marias. Esta prática salutaríssima, vêm dos nossos avós, por antiga tradição católica. É preciso difundir cada vez mais, principalmente no seio da família este dia tão especial, para que nossos pósteros levem adiante esta chama tão preciosa de graça e de bênção de valor inimaginável. É muito salutar passar o dia rezando, intensa e continuamente as Ave-Marias em honra a Maria Santíssima. É como que fazer um retiro espiritual em meio às nossas atividades cotidianas. Delas podemos alcançar por intercessão de Maria,  copiosas bênçãos e graças espirituais ou mesmo as  temporais que nos afligem nesta peregrinação terrestre. Coloquemos hoje, nas mãos amorosas de Nossa Senhora, todas as nossas dificuldades, aflições e intenções mais íntimas.  Façamos o possível para, pelo menos, lembrar-nos de repetir continuamente a oração da Ave-Maria, ainda que mentalmente, desde o alvorecer até o anoitecer. Ainda que o ideal fosse não só contar as Ave-Marias, mas meditar todos os respectivos mistérios do Rosário, as nossas atividades diárias, no automóvel, no trabalho, na escola, no lar,  podem impedir meditação adequada. Não importa, o que vale é passarmos o dia rezando, sempre que pudermos,  essa oração poderosa tanto para os ataques do mal, quanto para obtermos as graças daí advindas. 

domingo, 1 de agosto de 2010

CURSO SOBRE SALMOS COM IONE BUYST

MINISTÉRIO DO SALMISTA
INTRODUÇÃO
No primeiro livro desta coleção, A Palavra de Deus na liturgia, falamos sobre a importância desta Palavra como reali¬dade sacramental. Lembramos como o Senhor tem uma Pala¬vra viva, atual, transformadora, para cada comunidade cele¬brante e para cada um(a) dos participantes. Lembramos que Jesus Cristo é o centro da liturgia da Palavra e que ele nos fala por seu Espírito em cada celebração e nos envia como testemu¬nhas dele. Falamos ainda das várias partes da liturgia da Pala¬vra e como podemos realizá-las.
O presente livro, que é o número 2, supõe que você já tenha lido o anterior. Haverá um terceiro, falando sobre a homilia, que também diz respeito à Palavra de Deus na liturgia. Os três textos formam, portanto, um conjunto.
De que vamos tratar agora? Como bem diz o título, do ministério de leitores e salmistas: quem pode assumir este mi¬nistério, em que consiste este serviço, onde encontrar e como preparar e proclamar uma leitura e um salmo, como proclamar um evangelho ... Quando falarmos de leitores e salmistas esta¬remos nos referindo sempre a homens e mulheres que assu¬mem este serviço na comunidade.
Neste segundo livrinho, estaremos aproveitando alguns artigos publicados na Revista de Liturgia. Estamos escrevendo para comunidades pertencentes à Igreja Católica Romana, mas certamente outras Igrejas se reco¬nhecerão neste pequeno escrito, feito em perspectiva ecumênica. Da mesma forma, também comunidades católicas poderão aprender com estudos feitos em outras Igrejas cristãs. Na Igreja Católica, os seguintes documentos são uma referência impor¬tante para o serviço de leitores e salmistas:

SC = Sacrosanctum Concilium: a constituição conciliar (Concílio Vaticano 11, 1964) sobre a Sagrada Liturgia. O texto pode ser encontra¬do no Compêndio: Vaticano H mensagens, discursos, documentos. São Paulo, Paulinas, 1998.

IGMR = Introdução Geral ao Missal Romano. O tex¬to encontra-se no início do Missal Romano.

IELM = Introdução ao Elenco das Leituras da Missa.

Para citar as Sagradas Escrituras, usamos a tradução da Bíblia Sagrada Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, com algu¬mas pequenas alterações. A numeração dos salmos segue sem¬pre a Bíblia hebraica, como se faz na maioria das bíblias hoje em dia. (Os lecionários costumam seguir a numeração da tra¬dução grega da Bíblia.)
Sugerimos o estudo do texto em comunidade ou na reu¬nião da equipe de liturgia, completado com a leitura individual. Sempre que possível, abram a Bíblia, leiam, analisem e medi-tem as passagens indicadas. Analisem a prática litúrgica de vocês, aproveitando as perguntass ao longo do texto.


O ministério dos salmistas

Quase tudo aquilo que falamos do ministério de leito¬res vale igualmente para salmistas, porque o salmo de resposta é uma leitura cantada. Aqui apenas complementaremos o que é específico do salmo e do ministério dos salmistas.
13. O que é um salmo?

Salmo é um cântico executado ao som do saltério, um instrumento musical de cordas, parecido, digamos, com o nos¬so violão. Na Bíblia encontramos um livro, chamado "Saltério" ou "Louvores", com 150 salmos. Há outros salmos ou cânticos bíblicos espalhados ao longo dos outros livros da Bíblia.
Ao longo de toda a sua história, o povo de Deus foi expressando sua fé e sua vida cantando, suplicando e agrade¬cendo ao Senhor Deus. Os salmos quase sempre partem da situação difícil da vida e da história dos pobres: doença, sofri¬mento, desprezo, perseguição, ataques do inimigo, expulsão da terra, exílio, prisão, morte ...
Mas sempre terminam louvan¬do e agradecendo ao Senhor por sua presença, por sua aliança, sua solidariedade, sua proteção ...
Muitas vezes escritos na primeira pessoa (eu), foram as¬sumidos na liturgia do povo judeu como sendo uma expres¬são comunitária. É todo o povo que, a uma só voz e um só coração, como esposa do Senhor, expressa diante dele sua fé, sua adesão à lei do Senhor, à Palavra do Senhor. Assim, o povo judeu nos deixou uma herança riquíssima, de teor espiritual incalculável. Gerações e gerações alimentaram e continuam ali¬mentando sua fé orando e cantando salmos.
2. Os salmos nas comunidades cristãs
As comunidades cristãs foram entendendo os salmos como profecias de Jesus, o Cristo. Orientadas pelo Espírito San¬to, foram reinterpretando os salmos a partir dos acontecimen¬tos da morte-ressurreição de Jesus e também a partir de sua própria vida e missão, enquanto comunidades cristãs.
Leiam, por exemplo, Atos 4,23-31. Vejam como a comunidade ouve o relato da prisão de Pedro e João e do interrogatório deles no sinédrio. Vejam como, de repente, interpretam este fato a partir do Salmo 2: "Os reis da terra se insurgem e os príncipes conspiram unidos contra o Senhor e contra o seu Messias. Foi o que aconteceu nesta cidade: Herodes e Pôncio Pilatos se uniram com os pagãos e os povos de Israel contra Jesus, teu santo servo, a quem ungiste ... ". Portanto, temos aí três coisas relacionadas: os fatos da vida, os salmos, o Espírito Santo que aponta para Jesus, o Cristo.

Em Lucas 24,44-48 Jesus diz: " ... é preciso que se cum¬pra tudo o que está escrito a meu respeito na lei de Moisés, nos profetas e nos salmos. "
Muitas outras passagens do Novo Testamento confirmam esta prática.

Comparem, por exemplo:

Mateus 21,42 (Salmo 118,22-23); Mateus 23,39 (Salmo 118,26)
Mateus 26,23 eJo 13,18 (Salmo 41,10); Mateus 27,45-46 (Salmo 22,2);
João 2,17 (Salmo 69,10);
João 15,25 (Salmo 35,19)
João 19,28-29 (Salmo 69,22);
Atos 2,24-28 (Salmo 16,8-11);
Atos 2,32-36 (Salmo 110,1);
Hebreus 10,5 (Salmo 40,7-9).

Se quisermos orar com os salmos hoje, teremos de se¬guir o mesmo "método" das primeiras comunidades.

3. O salmo de resposta na liturgia da Palavra
Os salmos ocupam um espaço bastante significativo na liturgia cristã. Antes de tudo, são o elemento principal na Liturgia das Horas (ofício divino), juntamente com os cantos bíblicos do Antigo e Novo Testamento. Na celebração dos sa¬cramentos e sacramentais estão previstos como cantos processionais (entrada, oferendas, comunhão e outros) e ain¬da ... como Salmo responsorial, também chamado de "Salmo de resposta”
O salmo de resposta foi reintroduzido pelo Concílio Vaticano 11, depois de 13 séculos de desaparecimento. Recupe¬rou seu espaço como canto após a primeira leitura da liturgia da Palavra. É resposta em dois sentidos:
• porque o povo responde com um refrão aos versos can¬tados pelo salmista;
• porque o salmo é escolhido de acordo com a primeira leitura e de alguma maneira responde a esta.
É parte integrante da liturgia da Palavra, tem valor de leitura bíblica. Por isso, o salmo de cada dia vem indicado no elenco de leituras e vem impresso no Lecionário. Portanto, não deve ser substituído por outro canto. Todos temos o direito de usufruir desta importante herança deixada pela tradição do povo judeu e das primeiras comunidades cristãs.
O salmo de resposta consiste em um salmo com um refrão, quase sempre tirado do próprio salmo. Nem sempre é de "meditação": às vezes é de louvor, de súplica, de lamentação etc. Algumas vezes o salmo vem substituído por um cântico bíblico. Embora o Lecionário faça uma escolha de alguns ver¬sos do salmo, parece melhor ouvir o salmo por inteiro, confor¬me a mais antiga tradição.
Os salmos na liturgia participam da função memorial de toda a liturgia. Fazem parte da ação ritual, objetiva, que expressa e faz acontecer a salvação. São revelação, profecia de Cristo, do Espírito Santo, da Igreja, do Reino, celebração do mistério pascal. São pedagógicos (ensinam-nos a rezar) e mistagógicos (introduzem-nos no mistério); operam a trans¬formação pascal.
Mas isto supõe de nossa parte um "trabalho": devemos ouvir e cantar prestando atenção à letra e à música, relacionando o salmo com as leituras ouvidas e com a nossa vida pessoal e social. Devemos "entrar" no salmo com todo o nosso ser, com toda a nossa realidade. Sou eu que clamo ao Senhor ... Ao mesmo tem¬po, este eu está ligado ao eu da comunidade como um todo e até de toda a humanidade, e ao "eu" de Jesus Cristo. Santo Agosti¬nho nos diz que Cristo é o cantor dos salmos e nos convida a deixar o Cristo (com seu Espírito) cantar em nós.

4. Onde encontramos o salmo de resposta?
O texto do salmo, com o refrão e os versos escolhidos de acordo com a primeira leitura, encontram-se no Lecionário.
Nas páginas finais de cada volume do "Hinário Litúrgico" da CNBB, encontramos quadros com a referência do salmo de cada celebração e a indicação das páginas onde podemos encontrar partituras. Há CO's acompanhando cada volume do Hinário. Nada impede que sejam usadas outras melodias para o salmo indicado no Lecionário, contanto que se conserve este princípio: quem canta o salmo é o salmista; o povo ouve e responde com o refrão.


5. O problema da numeração dos salmos

Várias vezes já nos referimos a duas maneiras diferentes de numerar os salmos: a da Bíblia hebraica e a da tradução grega da Bíblia. Em que consiste esta diferença, de onde vem e como lidar com ela na prática?
A confusão em torno da numeração dos salmos já vem de longe, da tradução grega, feita em torno do ano 250 antes de Cristo. Quando o tradutor chegou no Salmo 10, pensou que fosse a continuação do Salmo 9 e traduziu os dois como se fossem um salmo só. Assim o salmo que na Bíblia hebraica era Salmo 11, começou a ser Salmo lOna tradução grega. Por isso, a numeração hebraica tem um número na frente da nu¬meração grega. Como esta, há várias outras alterações na nu¬meração dos salmos. Eis o esquema das diferenças:

Bíblia hebraica: 1-8 9 - 10 11 - 113 114-115 116 117 - 146 147 148 - 150

Tradução grega: 1-8 9 10 - 112 113 114 - 115 116 - 145 146 - 147 148 - 150

Assim, exemplificando: o salmo O Senhor é meu pastor é o n. 23 na Bíblia hebraica e o n. 22 na tradução grega. Se quiser conferir qual é a numeração usada em sua Bíblia, verifique a numeração deste Salmo tão conhecido. A maioria das bíblias e outras publicações costumam colocar o outro número entre parêntesis: salmo 23(22) ou Salmo 22(23). Todo cuidado é pou¬co. Principalmente porque os Lecionários da Igreja Católica con¬tinuam usando a numeração da tradução grega da Bíblia.


6. Os salmos no Lecionário Dominical

Por ser a celebração dominical a mais importante de todas, reproduzimos aqui em forma de esquema a indicação dos salmos de cada domingo, nos três anos do Lecionário: A, B e C. A numeração seguida é a da Bíblia hebraica, como na maioria das bíblias atuais, no Hinário Litúrgico da CNBB e no Ofício Divino das Comunidades:


7. Os Salmistas

Já que salmo de resposta é como uma leitura cantada, o salmista pode ser considerado um cantor-leitor, ou cantora¬leitora. Salmodiar é uma arte; precisamos aproveitar os dons que Deus deu a certas pessoas. É também um ofício que se aprende; daí a necessidade de uma boa preparação e formação. Que tipo de formação?

• Uma formação bíblico-litúrgica: aprofundar o senti¬do literal e cristológico dos salmos; estudar cada sal¬mo em sua relação com a primeira leitura e com o projeto de salvação de Deus.

• Uma formação espiritual: saber orar com o salmo, saboreá-lo como Palavra de Deus para nossa vida atual; saber cantar de forma orante.

• Uma formação musical: saber usar a voz de forma adequada, com boa dicção; se for o caso, até saber ler uma partitura simples; aprender as melodias dos sal¬mos de resposta; saber se entrosar com os instrumen¬tos musicais que eventualmente acompanham o canto do salmo.

• Uma formação prática: saber manusear o Lecionário e o 'Hinário litúrgico"; saber em que momento subir à estante, como se comunicar com a assembléia, como usar o microfone ... ; conhecer os vários modos possí¬veis de se cantar o salmo ...


8. Como cantar o salmo?
"Cabe ao salmista ou cantor do salmo cantar de forma responsorial ou direta o salmo ou outro cântico bíblico, o gra¬dual (isto é, o salmo responsorial) e o 'aleluià, ou outro cântico entre as leituras. Ele mesmo pode iniciar o 'aleluià e o versículo, se parecer conveniente" (IELM, n. 56). "Forma direta' quer dizer: o salmista canta ou recita o salmo sozinho sem interven¬ção da comunidade. "Forma responsorial" é a forma mais co¬mum entre nós, quando o salmista canta os versos e a comuni¬dade intervém com o refrão.
O salmo é cantado da estante da Palavra, como as ou¬tras leituras bíblicas. Como na proclamação das outras passa¬gens bíblicas, é fundamental a comunicação com a comunida¬de, não só através da voz, mas ainda através da postura e da expressão do rosto, que deverão transmitir o sentido orante do salmo.
Se for preciso alguém orientar o canto do refrão, que não seja o salmista, e sim, o dirigente do coro ou o animador do canto do povo. Cada qual fique com sua função e somente com a sua.

Geralmente, o canto do salmo vem acompanhado de instrumentos musicais, embora isto não seja necessário. Inclu¬sive vale lembrar que, principalmente no salmo e nos cânticos bíblicos, os instrumentos deverão ser muito discretos. O que deve ser ouvida é a voz do salmista proclamando o texto sagra¬do. Os instrumentos deverão apenas apoiar, acompanhar dis¬cretamente, sem se sobrepor ao canto, sem impor seu ritmo, principalmente durante os versos cantados pelo(s) salmista(s).
Por causa de seu caráter de leitura cantada, a melodia para os versos do salmo deverá ser de preferência bastante simples, tipo recitativo.8 Embora não se exclua outra forma musical, já conhecida do povo, como por exemplo, as melodias do Oficio Divino das Comunidades. No entanto, se forem usadas como salmo responsorial, este será cantado por solista ou solistas; por exemplo, uma voz masculina e outra feminina, alternando.
O salmo poderá ser introduzido pelo animador da cele¬bração, o qual poderá fazer uma breve motivação, preparando nosso coração para responder ao Senhor, ligando o salmo com nossa vida e com a leitura proclamada.

Na seqüência, teremos, portanto:

• Primeira leitura. Breve silêncio.
• Motivação por parte do animador ou animadora.
•Refrão cantado pelo salmista, repetido pela comunida¬de, com ou sem acompanhamento de instrumentos.
• Versos do salmo cantados pelo(s) salmista(s), com a comuni¬dade alternando com o refrão, com ou sem acompanhamen¬to de instrumentos.
PERGUNTAS PARA REFLEXÃO
1) Nossa comunidade tem levado a sério o salmo responsorial, principalmente nas celebrações de domingo?
2) Este salmo tem sido alimento para sua fé? Ou é apenas uma formalidade?
3) O que se tem feito para os participantes da comunidade aprenderem a cantar e rezar com os salmos?
4) Os salmos têm sido comentados na homilia alguma vez?